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A produtividade pode esconder o que realmente importa

📍 Por Felipe – Terapia Integrativa & Saúde Mental


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Vivemos em um tempo em que a pressa é confundida com importância. A pessoa ocupada é vista como alguém valioso, disputado, indispensável. E pouco importa se essa ocupação é real ou apenas preenchida com coisas triviais: na lógica do mundo moderno, o que importa é parecer produtivo.


Mas há uma verdade incômoda por trás disso — muitas vezes, a nossa busca incessante por tarefas, compromissos e projetos não nasce de um propósito claro, mas de um medo silencioso. Medo de parar. Medo de se encarar. Medo de ouvir o que o próprio coração tem a dizer quando a última tarefa do dia é riscada da lista e resta apenas… o vazio.


O incômodo do nada


Se fosse apenas uma questão de “não saber descansar”, já seria sério. Mas vai além. O silêncio é perigoso para quem construiu a vida sobre muros frágeis, porque nele não há distração que segure as rachaduras. E aí, no espaço deixado pela ausência de ruído, vem a enxurrada: lembranças de promessas não cumpridas, mágoas não resolvidas, conversas que ficaram pela metade, decisões adiadas até que fosse tarde demais.


Não suportamos o silêncio porque nele somos obrigados a nos reconhecer. E a verdade é que esse encontro nem sempre é agradável. Encarar-se exige coragem, porque significa admitir erros, fragilidades e a nossa própria inconstância.


O papel da produtividade como fuga


A produtividade, quando equilibrada, é virtude: disciplina, constância, entrega. Mas quando se torna absoluta, ela é fuga. É como o bêbado que bebe para não lembrar, mas que, no fundo, sabe exatamente o que está tentando esquecer. Corremos de compromisso em compromisso não porque cada um deles seja indispensável, mas porque, se parássemos, precisaríamos admitir que muito do que fazemos não é por amor ou sentido — é por medo do vazio.


Esse é o ponto em que o trabalho, as metas e as tarefas diárias deixam de ser ferramentas e passam a ser muletas. Elas nos sustentam não para caminhar melhor, mas para não desmoronar.


O silêncio como mestre


O silêncio não pede permissão. Ele chega nas pausas forçadas: na doença que obriga a desacelerar, na perda que muda todas as prioridades, na noite em que o sono não vem e ficamos deitados olhando o teto, sozinhos com nossos pensamentos.


E aí ele ensina — ou melhor, revela. Mostra que muito do que considerávamos essencial é apenas ruído. Mostra que, apesar de todo o movimento, continuamos no mesmo lugar interiormente. Mostra que a vida não se mede pelo volume de tarefas, mas pela densidade do que vivemos quando não estamos fazendo nada.


O silêncio é como um espelho cruel: devolve exatamente o que somos, sem maquiagem, sem pose. Mas é também como um médico sábio: aponta a ferida que precisa ser tratada, e não apenas enfeitada.


O perigo de adiar o encontro consigo mesmo


Há quem passe décadas evitando esse encontro, usando a produtividade como escudo. Mas isso cobra um preço. Chega um momento em que o corpo começa a fraquejar, a mente se esgota e o coração se endurece. Nessa hora, até as tarefas perdem o sabor — e a vida parece um fardo pesado demais para ser carregado.


É por isso que, paradoxalmente, parar não é perda de tempo. Parar é ganhar fôlego para continuar. E mais do que isso: parar é lembrar que a vida não é feita apenas de cumprir metas, mas de ter clareza de por que elas importam.


Aprendendo a permanecer


Estar consigo mesmo é um treino. No começo, o silêncio parece hostil. Mas, com constância, ele deixa de ser um inimigo e se torna um aliado. Ele nos devolve a capacidade de perceber os detalhes, de sentir a passagem do tempo sem medo, de reencontrar um ritmo que seja nosso — e não ditado por máquinas, redes sociais ou comparações.


Esse é o ritmo que permite florescer. Porque, assim como na natureza, nada cresce sob pressão constante: o fruto amadurece no tempo certo, e não porque o agricultor gritou para ele apressar-se.


No fundo, todo esse barulho que buscamos é uma tentativa desesperada de evitar um diálogo inevitável: o que realmente sustenta a nossa vida?


E se a resposta não vier, talvez seja sinal de que é hora de calar, ouvir e, finalmente, entender.



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